"A Politician needs the ability to foretell what is going to happen tomorrow, next week, next month, and next year. And to have the ability afterwards to explain why it didn't happen" Winston Churchill

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A minha análise sobre a Eleição Presidencial

Este texto foi publicado originalmente no meu blog pessoal, Nódoa Offline, mas dado o impacto que teve, decidi partilhá-lo também aqui, com o intuito de ser lido por mais pessoas.

O meu envolvimento nesta campanha eleitoral foi-me dando alguma confiança num resultado diferente do que ontem registámos. No entanto, horas antes de serem conhecidas as primeiras projecções, respondendo a alguns amigos, contive-me: "É muito difícil...". Isto porque os portugueses não ligaram a estas eleições - e não me refiro apenas aos 53% de abstenção, mas sim a todas as semanas de campanha que a antecederam.

O típico preconceito português de dar um valor desmedido à primeira impressão que sobre uma pessoa (candidato) cria e de, a partir daí, não mais mudar de opinião, ficando indiferente a novos factos e dados, fez com que a campanha eleitoral não servisse de muito. Por outro lado, os poucos que acompanharam esta campanha "por fora", ou seja, à espera de encontrar um candidato no qual se revissem, sentiram-se desiludidos e com pouca vontade de ir votar.

Eu não acho, como muitos analistas e políticos disseram, que a campanha foi má. Também se discutiram projectos, linhas, competências. Mas não foi essa a imagem que passou ao país, aos portugueses que confiam a informação aos telejornais. A comunicação social promove casos; as audiências disparam; a comunicação social rejubila e continua. Não é assim que se deve fazer, mas é o que, infelizmente, acontece.

Refiro-me, por exemplo, a Manuel Alegre, pois estive presente em alguns comícios, ouvi alguns discursos na íntrega e pude comparar o desfasamento entre o que que foi dito e os pontos que foram aproveitados e destacados pela imprensa, daí ter ficado plenamente consicente do prejuízo que a comunicação de massas trouxe a esta eleição. É certo que existem espaços de debate em canais por cabo como a SIC Notícias e a RTP N ou, também, colunas de jornais com letra miudinha. O problema é que esses espaços são ignorados pela esmagadora maioria da população, convenhamos.


53% de abstenção

Não creio que esta elevada taxa de abstenção tire legitimidade ao Presidente eleito. Tira, sim, legitimidade de protesto aos que não foram às urnas.

Há um número particularmente interessante: os votos em branco. Respeito aqueles que se deslocaram às urnas para mostrar claramente que não queriam decidir. Contudo, penso que há que ser calculista - votar em branco, nulo ou não votar é, em termos práticos, manter a mesma pessoa no cargo.

Queixar-se, por si só, que "os políticos são todos uma vergonha" não chega. A intervenção cívica é uma expressão muito bonita para se dizer no Domingo de eleições, mas não tem sido uma realidade. Aqueles que acham que renovar as pessoas que fazem política, apostanto e projectando novas caras, não passa de um cliché, estão, acredito, muito enganados. Para além disso, os políticos "não são todos iguais" e essa generalização parte, na grande maioria dos casos, por falta de interesse em estabelecer as comparações. Ou, reitero, poucos meios (a população não tem culpa de estar mal informada).

Em todo o caso, o fraco envolvimento do povo e a resignação só dão cada vez mais poder aos políticos, quando o objectivo seria precisamente o inverso.



Mau resultado de Alegre

Esta derrota explica-se, na minha opinião, por dois motivos:

Em primeiro lugar, não conseguiu captar os chamados "eleitores flutuantes". Estes, muito devido ao ódio que se multiplicou sobre Manuel Alegre, por nunca ter sido uma pessoa de conveniências, a) votaram em Cavaco Silva, pois não se aperceberam dos erros gravíssimos que cometeu neste mandato e poderão ter decido em função do descontentamento que sentem em relação ao governo, esperançados que o candidato de direita apresse a dissolução do parlamento; b) votaram nas candidaturas que estão na moda (a independência e o apartidarismo de Fernando Nobre, que lhe conferem o descomprometido e confortável estatuto de outsider, e a ridicularização da política portuguesa, mostrando sem reservas e de forma caricatural os podres da democracia, feita por José Coelho que, aliás, foi um substituto à altura do Candidato Vieira) e c) não foram, pura e simplesmente votar. Obviamente que, face aos resultados, c) e a) foram, respectivamente, as situações mais repetidas.


Em segundo lugar, muitos militantes do Partido Socialista não apoiaram Manuel Alegre. Vários motivos: uns pensam que, há 5 anos, este "traiu" o partido e a candidatura de Mário Soares; outros acham que as divergências com as decisões do PS nos últimos anos constituiram um desrespeito ao partido.

Quanto à eleição de há 5 anos, penso que o Partido Socialista foi "obrigado" a apoiar Mário Soares, pois, sendo este um dos maiores ícones da história do partido, e decidida a sua candidatura, uma recusa de apoio por parte do PS seria um total absurdo. No entanto, era Soares quem devia ter tido a noção de que teria muito mais a ganhar se se tivesse afastado daquela eleição.

As divergências de Manuel Alegre com o Partido Socialista são públicas. E foi esse o grande problema. As divergências resolvem-se internamente, transparecendo, em qualquer circunstância, uma imagem de união. No entanto, Manuel Alegre colocou a sua individualidade à frente do rumo do partido várias vezes. E não é necessariamente mau. Em Portugal, criou-se uma grande ideia de honra para aqueles que se mantêm (aparentemente) incondicionalmente apoiantes de todas as decisões do partido a que pertencem, mas, na verdade, isso é pouco mais do que covardia. Os militantes devem pensar individualmente (em prol do partido, é claro) e não agir como rebanhos, acríticos, hipócritas - têm sido esses os grandes responsáveis pelas "máquinas" políticas com pouco valor. Aparecer uma voz discordante estimula, enobrece a discussão. Se houvesse mais figuras políticas como Manuel Alegre a democracia respiraria mais saúde. Com sucessivas conveniências se traça o caminho mais fácil, mas não o mais acertado, creio.

O facto de Manuel Alegre divergir muitas vezes, sem receios, das opções do partido deveria ser um ponto a seu favor, aos olhos dos indecisos: seria um Presidente verdadeiramente suprapartidário. Imparical? Como assim? Clarificou bem aquilo por que ia lutar: Estado Social. E tenho a certeza que não foi por isso que perdeu votos. Ou melhor, acho que não registou mais votos porque esse seu compromisso (aliás, toda uma questão que envolve a chegada do PSD e do seu programa ao governo e a complacência - ou, pelo menos, a incógnita, visto que não tomou uma posição clara - de Cavaco Silva) não teve o destaque que merecia: era, precisamente, o tema que tornava estas eleições tão importantes. A mensagem não passou.


Os discursos pós-resultados

Tive oportunidade de ouvir Paulo Portas, Fernando Nobre, José Sócrates, Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva.

Paulo Portas foi o primeiro a comentar a vitória de Cavaco e, também, o mais precipitado. Foi sobre a questão partidária que mais incidiu o discurso, o que não é de admirar, uma vez que o Prof. Cavaco Silva nada lhe diz e o seu grande interesse era uma aproximação ao PSD (ver mais).

Fernando Nobre obteve um bom resultado mas não o suficiente para se considerar o grande vencedor da noite. Fala em "vitória da cidadania" numa eleição em que a abstenção atinge os 53%. Em 2006, também a candidatura de Alegre era independente, e conseguiu uma percentagem bem superior à registada por Fernando Nobre (acima dos 20%). É mau quando reclama uma vitória da cidadania activa, insinuando que pertencer a um partido não o é. Para além disso, expressou claramente o objectivo de chegar à 2ª volta. Não o tendo concretizado, ficava-lhe bem mais modéstia. Fernando Nobre vai-se recandidatar. É uma pena, pois acho que, ao se envolver e ganhar experiência política, está a desperdiçar esforços que teriam mais utilidade na sua acção na AMI.


José Sócrates foi inteligentíssimo na dupla função de Secretário-Geral do PS e Primeiro-Ministro, aceitando a vitória de Cavaco Silva (é com ele que vai ter que contar, de pouco vale criticá-lo) mas sem deixar de referir que o PS esteve ao lado de Manuel Alegre. Aliás, Sócrates interviu na sua campanha, em Castelo Branco e em Águeda. Os socialistas poderão não ter estado ao lado de Alegre, mas a estrutura, grande parte dos mais importantes dirigentes do partido, José Sócrates em particular, estiveram. De pouco serviria não aceitar a vitória de Cavaco. Destaque ainda para a primeira frase do seu discurso, que provocou más interpretações ("os portugueses optaram pela continuidade e pela estabilidade política"): Sócrates não acha que a reeleição de Cavaco é benéfica, apenas analisou aquilo que a maioria dos portugueses achou e, como Primeiro-Ministro, deve ser (como tem sido) o primeiro a defender a estabilidade.


Pedro Passos Coelho revelou muita astúcia e percebe, como homem de discursos que cativam, que não poderia anunciar aquilo que, no fundo, pensa. Foi um fácil discurso de vitorioso, com o mérito da falta de arrogância, e exprimindo de forma simples que o PSD se empenhou no apoio a um candidato e esse candidato foi eleito. Se associasse a reeleição de Cavaco a uma maior probabilidade de o PSD chegar ao governo nos próximos meses, saberia que seria tremendamente criticado e sairia prejudicado. Assim, sai da noite eleitoral como uma pessoa sensata e marca a diferença em relação a, por exemplo, Paulo Portas.


Manuel Alegre assume-se como derrotado, naturalmente, e é igual a si mesmo: frontal. Agradece a todos os que o apoiaram e eu agradeço por se ter assumido nesta luta, nesta causa. Esta frase merece ser registada: "Nem sempre estivemos de acordo, mas a força da democracia e a força do Partido Socialista são isso mesmo: diversidade e pluralismo."

Sabe perder. Aliás, na democracia está-se sujeito à derrota, e não há quem mais tenha respeitado a democracia que Alegre.



Cavaco Silva... Cavaco Silva teve um discurso pouco mais que miserável. Quanto à anunciada magistratura activa, foi muito vago, sem conteúdo e populista. Ainda ninguém percebeu o que Cavaco quer dizer quando refere a educação para todos, combate ao desemprego, a contenção do endividamento externo e o reforço da competitividade das empresas. Só apetece fazer duas perguntas, depois de um discurso tão superficial nesta matéria: "Como? Através do quê?". Basicamente, Cavaco Silva tem sido assim: exulta chavões mas escapa a perguntas como "Qual a sua opinião sobre o SNS, a Escola Pública e a Segurança Social?" e contradiz-se, sucessivamente, quanto à dissolução, ou não [em que circunstâncias], da Assembleia da República.


Quando prometeu uma "cooperação leal" com o Governo, lembrei-me do caso das escutas a Belém, uma artimanha do Presidente da República em plena campanha para as Legislativas, em 2009. Espero que a definição de "cooperação leal" não corresponda, para Cavaco, a traições institucionais como aquela a que todos assistimos, mas que, pelos vistos, passou incólume.


Por último, a "campanha de calúnias, mentiras e insinuações" de que fala Cavaco: mais uma vez, coloca-se acima do escrutínio dos portugueses e não nos esclarece quanto ao envolvimento em casos de que é acusado. Não são calúnias, são factos. Provados. É assim que Cavaco Silva vai passando por cima da verdade, com o consentimento de muitos sociais-democratas que seguem sem questionar o candidato do seu partido e milhares de portugueses, maioritariamente idosos, que reflectem um país pouco informado, que, num acto eleitoral, tem pouco discernimento e escolhe emocionalmente (carisma de Cavaco) e não racionalmente (análise dos factos). Quando Cavaco Silva diz que é sério e, ao mesmo tempo, se escusa aos esclarecimentos, está a tratar por parvos todos aqueles que o continuam a endeusar.


O seu discurso não foi para todos os portugueses, mas sim para os que o apoiaram. Não é por ter ganho as eleições que a verdade deixa de lhe ser exigida.



Surpresa na Madeira e sucessão no PCP

O resultado que Coelho atingiu na Madeira pode antever uma disputa histórica entre o literalmente enraizado João Jardim e o novo fenómeno de popularidade. Ainda não sei bem o que pode a Madeira ganhar ou perder, mas é, de facto, uma situação a ter em conta.


Francisco Lopes partiu quase "do zero" e obteve uma votação "sólida". Ganha força o sucessor de Jerónimo de Sousa e Ricardo Araújo Pereira, bem, é pronto a "dar a mão à palmatória".



Futuro de Portugal

O futuro parece-me simples: só haverá possibilidade de o Presidente da República antecipar eleições se Portugal não se "safar" do FMI. Caso contrário, acho que o governo tem todas as condições para concluir o mandato. O problema é que Portugal anda a duas velocidades e a oposição não se preocupa com o bem comum, mas sim com os seus botões. Ou seja, a vinda do FMI, tremendamente má para Portugal e para os portugueses, parece ser uma prioridade de partidos como o PSD. É hora de puxar por Portugal, mas não pode ser só o governo e uma fatia dos empresários em Portugal a remar. Devemos ser o único país onde uma boa notícia se tenta ocultar e não siginifica contentamento para todos os portugueses. Aliás, é isso que nos faz mais pequenos.

6 comentários:

  1. pedro, meteste o dedo na ferida num assunto essencial. o papel da comunicação social na forma como difunde, ou não o faz, a mensagem das campanhas eleitorais. vivemos um período em que a informação espectáculo ganhou espaço em relação à informação credível. como tu referes, e eu só posso concordar, uma vez que, também já assisti a vários comícios, as propostas dos vários candidatos nunca chegam aos telespectadores, aquilo que os jornalistas gostam é que se "criem factos" e ouvir os comentários e as respostas de parte a parte. as campanhas já não passam disto. ouviram alguma pergunta, durante a campanha sobre o que pensavam os candidatos sobre a regionalização (tema muito defendido por defensor moura), ou que caminho temos que trilhar para resolver os problemas? nada, nada disto se questionou e é pena, porque perdemos todos nós.

    ResponderEliminar
  2. Quando se fala no divórcio entre as populações e os políticos, somos prontos a apontar causas.
    A corrupção, as crises, a falta de preparação nas escolas, o puro desinteresse ou, simplesmente, ódio. Era importante uma maior responsabilização da comunicação social. Infelizmente, a internet ainda não ultrapassou a televisão, sobretudo quando nos referimos a uma população adulta e idosa. Na internet também se alastra muito "lixo informativo", mas pelo menos há mais diversidade e o que cada um diz sofre testes de credibilidade, enquanto que um opinador de telejornal, por exemplo, ou uma redacção inteira, têm, à partida, um estatuto de referência.

    ResponderEliminar
  3. Valter dou-te razão, por acaso ouvi esse tema ser abordado, e a opinião (se é que o candidato sabe o que é a regionalização) de Coelho sobre a regionalização, mas não é matéria fácil de encontrar...

    ResponderEliminar
  4. falaram em divórcio entre populações e políticos??

    http://aspirinab.com/valupi/os-politicos/

    ResponderEliminar
  5. Quanto à regionalização, acho que os candidatos preferiram não falar sobre ela porque as populações ainda não estão suficientemente informadas sobre o assunto. A regionalização tem que começar a entrar na agenda de forma gradual, para que consiga ser explicada antes de ser "morta à nascença" pelos que evocam os custos. Um referendo, daqui a mais ou menos um ano. O que acham?

    ResponderEliminar
  6. Obviamente que o referendo, a acontecer, tem que ser precedido de muitas e muitas sessões de esclarecimento e algum debate na assembleia. Mas, mais uma vez, temo que a comunicação social prejudique a elucidação.
    Neste momento, sinto-me preparado para defender a regionalização, mas reconheço que há muitos contras capazes de fazer frente aos prós.
    É uma questão de bom-senso e chegaremos a conclusões mais sustentadas.

    ResponderEliminar